domingo, 14 de novembro de 2010

Traduzir-se - Ferreira Gullar

Traduzir-se
Ferreira Gullar

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

 Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

2 comentários:

NuParq disse...

Poesia que, a meu ver, exprime com primor o espírito politeísta presente na Psicologia Arquetípica.

NuParq disse...

Somos muitos simultaneamente ! Politeísmo da alma!