segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Dica de filme: Cold Souls - Almas à venda

"Cold Souls"
Comédia/Drama
EUA/França, 2009
Realização: Sophie Barthes
Actores: Paul Giamatti, Dina Korzun, Emily Watson, David Strathairn, Katheryn Winnick, Lauren Ambrose, Boris Kievsky, Oksana Lada, Natalia Zvereva
Cor
101 minutos


Comédia surrealista na qual as almas podem ser extraídas e comercializadas como commodities. Equilibrando-se numa corda bamba, entre o humor inexpressivo e patético, a realidade e a fantasia, o filme apresenta Paul Giamatti como ele mesmo, angustiado sobre a sua interpretação de Tio Vanya, personagem de Tchekov. Paralisado pela ansiedade, ele encontra a solução num artigo do jornal New Yorker, sobre uma empresa de alta tecnologia que promete aliviar o sofrimento por meio da extracção de almas. Giamatti contrata os seus serviços – só para descobrir que a sua alma tem a forma e o tamanho de um grão-de-bico. A intenção é reintegrá-la e sobreviver à façanha, mas surgem complicações quando uma misteriosa “mula” traficante de almas empresta a alma de Giamatti para uma ambiciosa, mas infelizmente nada talentosa, atriz de telenovelas russas.

Kind of blue - An Essay on Melancholia and Depression

Documentário que aborda a melancolia e a depressão para além das questões clínicas e psiquiátricas. Através de depoimentos de escritores, terapeutas e de James Hillmann amplifica e discrimina a melancolia da depressão e traz reflexões e imagens diversas daquelas do senso comum e dos padrões e julgamentos coletivos vigentes. Para assistir acesse o link: http://www.youtube.com/watch?v=RcnExcHX2S0.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

E por falar em alma...Re-vendo a Psicologia

Yedda R. Macdonald -Psicóloga, membro-analista da SBPA-SP

"A minha alma tá armada
e apontada para a cara do sossego,
pois paz sem voz, paz sem voz,
não é paz é medo.
Às vezes, eu falo com a vida.
Às vezes, é ela quem diz: qual a paz que eu não quero conservar para tentar ser feliz ?"
(O Rappa)

Em seu livro"Re-vendo a psicologia", James Hillmann debruça-se sobre a idéia do patologizar como parte da natureza e do cultivo da alma. Na contra-mão dos valores pós-modernos de aceleração, produtividade, concretização o cultivo da alma demanda um mergulho na profundidade, na vagarosidade e no cultivo do vazio, aspectos estes desvalorizados pelo mundo atual. Não há paz silenciosa nessa busca e sim movimento para baixo, para o vale e para aquilo que entendemos egoicamente como depressão. A paz na relação com a alma precisa aprender a falar e a transitar na dinâmica da alma, que inclui o patologizar.

"A descoberta do inconsciente representou o reconhecimento amplo e esmagador do patologizar como atividade autônoma da psique. Esta descoberta e consequente reconhecmimento levaram-nos a um fato ainda mais significativo: o redescobrimento da alma. ...Os sintomas, e não os terapeutas conduziram este século à alma...Temos uma dívida imensa para com nossos sintomas. A alma sobrevive sem seus terapeutas, jamais sem suas aflições." (pág.161/162, 2o parág.)

















Desafios da clínica contemporânea

Desafios da clínica contemporânea
Vera Valente - Psicóloga, membro-analista da SBPA-SP

Inicialmente, precisamos pensar um pouco sobre essas duas palavras que compõe o título do trabalho: clínica contemporânea.
            A clínica normalmente é vista como um local de tratamento e cura. Local em que um profissional cura um paciente. Este termo também é usado amplamente pela psicoterapia, que trouxe à psique a idéia de doença e cura da medicina e da ciência positiva. Mas não é dessa clínica que aqui falaremos. Vamos pensar uma clínica de psicoterapia, mas de uma forma reimaginada, ou reanimada, como propôs Hillman. Nesse sentido, podemos começar nossa reflexão lembrando que a palavra clínica se origina da palavra de origem indo-européia Klie, que significa recostar, inclinar, curvar. Ou seja, a clínica, da qual falaremos, é a que tenta ser um espaço para cultivar a imaginação, para nos inclinarmos às expressões da alma. As suas manifestações precisam de uma abordagem paciente, oblíqua, curva, sinuosa, fertilizante, portanto a alma precisa de uma perspectiva clínica.
Além disso, essa abordagem precisa ser contemporânea, pois a alma se expressa no tempo, portanto, através da cultura, através da história. O objetivo desse trabalho é refletir sobre os desafios que o nosso tempo nos coloca. Como contribuir, na clínica hoje, com o reconhecimento de uma profundidade e de uma interioridade em todos os fenômenos sociais? Sobre que questões devemos nos inclinar para imaginar a imaginação da alma? Como cultivar a alma no nosso trabalho clínico?
A modernidade criou um mundo desencantado, na famosa expressão de Max Weber. Nele não há mistérios e maravilhas que não possam ser explicados pela razão humana. Para conhecer, divide-se: sujeito e objeto, sagrado e profano, físico e moral, natureza e cultura, razão e superstição, corpo e mente. Nesse sistema de crenças que sustenta a modernidade, a escolha religiosa passou a ser uma questão privada, cada indivíduo definindo a sua fé. Enquanto isso, a ciência se impôs  como verdade universal. Foi o início do culto à idéia de progresso, que ainda está tão presente no imaginário contemporâneo.
 Ao mesmo tempo, com a modernidade surgiram as poderosas idéias românticas, que trouxeram à tona um conjunto de possibilidades humanas não contempladas pelo pensamento científico como a imaginação, o sonho, o mistério, a subjetividade, a solidão interior, agora libertos, em parte, das amarras do poder das Igrejas cristãs. Apesar da força do espírito moderno, que nos empurra para termos um olhar objetivo da realidade, como sempre, em algum nível, a alma estará presente, permitindo o reconhecimento de uma profundidade e de uma interioridade em todos os fenômenos sociais. A idéia romântica completa a racionalidade iluminista.  É dentro desse espaço que surgiu o estudo da psique durante o século XIX. A psicologia nasceu dentro de consultórios, trazendo à clínica questões da alma, reduto das religiões ou das artes.
Essa combinação de razão e sentimento deu ao século XIX europeu as suas principais particularidades, luminosas ou sombrias. Por um lado, o desenvolvimento científico e tecnológico, permitindo uma expansão econômica e colonial sem precedentes. Por outro lado, uma cultura centrada na emoção que foi vivida principalmente na intimidade da vida privada.
Começarei, agora, a pensar o século XX, inspirada em idéias defendidas pelo psicanalista Jurandir Freire Costa, no seu livro, O vestígio e a Aura. A meu ver, ele identifica algumas transformações importantes que ocorreram na modernidade contemporânea. Segundo Jurandir Freire Costa houve, no século XX, uma modificação significativa na forma de produção dos valores morais da modernidade. Apesar de também considerar que as grandes crenças que caracterizaram o espírito da modernidade estão vivas, considera porém, que esses valores se organizaram de forma diferente a partir do século XX, nos dando a falsa impressão de que a modernidade chegou ao fim. Mas talvez, estejamos apenas vivendo o apogeu do espírito da modernidade.
Jurandir Freire Costa propõe que o século XIX se caracterizou por uma organização de valores que ele chamará de moral dos sentimentos, e que o século XX viu surgir uma nova moral, a moral das sensações. Começando pela moral dos sentimentos, é importante lembrar que ela substituiu os impessoais rituais das etiquetas do Antigo Regime, comportamentos representados para demonstrar civilidade e o lugar de cada um na estrutura social. Nesta época, as emoções eram projetadas nas imagens barrocas, mas não deveriam ser assumidas publicamente pelos indivíduos. Já no século XIX, a nova moral dos sentimentos, ou a cultura da sensibilidade, criou a base para a construção da família burguesa, do casamento romântico, do novo amor filial e paternal, da valorização do intimismo, da busca do auto-conhecimento, dos relatos da vida cotidiana. Este é o espaço de onde a nascente psicologia partirá.
A moral dos sentimentos criou o ideal de felicidade a partir da satisfação com a construção da vida. O corpo e suas sensações ficaram reféns dessa nova moral que privilegiou as emoções superiores e os ideais generosos. Claro que uma imensa sombra também foi criada em torno desses egos sentimentais. Enquanto a moral do sentimento organizava a vida privada, poucos no ocidente se incomodavam com a violência dos impérios coloniais, a miséria das populações proletarizadas, ou com a preparação das truculentas guerras que  questionarão a idéia de progresso, uma das idéias centrais da modernidade. O ego heróico aprendeu a conviver com a sensibilidade romântica. Não é a toa que o século XIX será marcado pela repressão sexual. Na moral romântica e sentimental, os corpos são controlados, o sexo é reprimido. A moral dos sentimentos é o tempo do amor sublime e não do desejo. 
No século XX, a moral dos sentimentos é substituída aos poucos pela moral das sensações. A moral da chamada pós-modernidade. Ela está amparada não mais na ética dos sentimentos, mas no próprio corpo, nas sensações do corpo, criando um novo caminho, mais concreto, para a busca da felicidade romântica, que se mantém como ideal dentro da vida privada. Diferente da moral romântica, que buscava na satisfação a felicidade, a moral das sensações está centrada no prazer. A satisfação quando alcançada apazigua, cria sentimento e história a ser contada. O gozo do prazer, como critério de felicidade, agita, gera ansiedade e impede a satisfação. O gozo do prazer, que está na base da moral das sensações é efêmero e gera uma permanente busca por mais prazer. A satisfação pode durar a vida toda. Já uma moral baseada na busca do prazer cria insatisfação e insegurança, marcas do século XX.                                        
Vivemos uma realidade que estimula a insatisfação permanente. A exigência de rapidez do mundo contemporâneo com os novos meios de comunicação, a intensa concorrência atrás de privilégios por indivíduos que devem se ver como iguais, o desencanto com o sonho de um mundo melhor e mais fraterno, levou à valorização das sensações em busca do prazer e a desvalorização da satisfação adquirida através da vivência de sentimentos interiorizados. A valorização de um estilo de vida extrovertido criou a nova moral do espetáculo, o mundo das celebridades, a perda de limites claros entre o mundo público e privado, que havia sido uma criação da moral dos sentimentos. O indivíduo contemporâneo ideal é aquele que coleciona sensações prazerosas, conquistadas pela sua ação e consumidas imediatamente. É a continuação do indivíduo heróico da modernidade levado ao extremo. Prazeres que não são conquistados pela ação, como o prazer que a passividade pode gerar, o prazer sentido na preguiça, no ócio, na gula, na lentidão, na rotina, não geram a sensação da vitória na ação, e portanto perdem importância ou são desqualificados. O homem contemporâneo ideal deve ser pró-ativo, palavra nova, mas que resume bem o indivíduo ultra-moderno.
Na moral da sensação, o corpo é um espaço de prazer privilegiado: é nele que se concretizam a beleza, a juventude, o peso ideal, a saúde corporal, o prazer sexual, a admiração, a força, a habilidade, etc. Já, na moral romântica, os prazeres privilegiados não eram físicos, mas principalmente sentimentos: pensamentos, emoções, ideais intelectuais, espirituais, comportamentos austeros na vida privada e pública. Agora, na ultra-modernidade é a vez do corpo que, em nome da beleza, mas principalmente da saúde, deve ser bem tratado, trabalhado e admirado. Ao longo do século XX, o conselheiro das famílias e dos indivíduos deixa de ser o padre, como na moral romântica, quando o objetivo principal era alcançar a virtude e a salvação da alma. No século XX, o conselheiro das famílias passa a ser o médico ou o terapeuta. É a ética da saúde na busca da longevidade. É também o corpo que deve mostrar o status e os privilégios vividos por cada pessoa, num espetáculo permanente.  
Na busca ansiosa por diferenciação, o individuo ultra-moderno deve expor seu privilégio de ter tempo livre e dinheiro disponível para cuidar e moldar seu corpo, mesmo que através de grandes sofrimentos auto-impostos. O próprio ideal de beleza, que é sempre, privilégio de poucos, principalmente de jovens bem nascidos, foi se moldando a essas novidades: no início século XX, a beleza estava nos corpos brancos e frágeis, que mostravam o privilégio de não precisar trabalhar ao sol e de poder viver intensamente a vida privada. Após a 2ª Guerra, a beleza passou a ser vista nos corpos queimados de sol, numa época de trabalho feminino, o tempo livre na praia era um privilégio. Agora, o ideal de beleza está nos corpos brancos dos protetores e musculosos com o tempo gasto nas academias, demonstrando dinheiro e o privilégio do lazer, numa sociedade que precisa trabalhar cada vez mais. A saúde dos corpos jovens e belos deve ser mostrada e vista como um privilégio adquirido através de uma vida de hábitos saudáveis, o que é um outro olhar para a antiga valorização religiosa de uma vida austera, sem excessos pecaminosos. A moral das sensações exige o controle do corpo e o sacrifício, mas não mais para garantir a salvação da alma, como no pensamento cristão, mas para garantir a salvação do corpo do ridículo destinado aos corpos flácidos, gordos ou fracos.
A moral das sensações centra na vontade, no ego heróico, a construção de uma vida saudável, divertida e longa. É na falta de vontade que a moral das sensações vê surgir a anormalidade e a doença. Antes, no iluminismo, a anormalidade psíquica era  a loucura, a falta da razão. No século XIX, na era dos sentimentos, a anormalidade estava na perversidade, o descontrole dos instintos destruindo sentimentos nobres, construídos pela vontade sentimental. Hoje, os anormais são os fracos, deprimidos ou muito ansiosos, os que não tem vontade para dominar o corpo, o tempo, os que vivem no ócio, dominados pela gula ou sem a vivência do prazer sexual. Os antigos pecados cederam lugar às patologias. Já não falamos de imoralidades, mas de doenças. Hoje, o critério de normal e de patológico é definido pela ciência, agora, a nossa verdade quase incontestável.
Uma sociedade formada por indivíduos que vêem no gozo do prazer seu principal objetivo é uma sociedade que gera, como já foi dito, insatisfação e insegurança.  Tudo passa rápido e deve ser conquistado a cada momento, por indivíduos incansáveis. O mercado de consumo, importante espaço de gozo na moral da sensação, não gera satisfação, mas insatisfação. No máximo, um prazer consumido rapidamente. É a produção da insatisfação que põe a economia em marcha, criando indivíduos insaciáveis com suas necessidades de consumo. Quanto mais temos, mais queremos. Esta é a nova lei da ultra-modernidade. A vivência da perda, portanto, é uma ameaça constante. Multiplicam-se os aparatos tecnológicos para preservar a vida, a juventude, a beleza, a saúde, o dinheiro, o status. Mas quanto mais inventamos novidades para nos dar segurança, mais a possibilidade da perda se torna o centro das nossas atenções e, portanto, mais criamos insatisfação e insegurança.
Privilegiar as sensações na busca do prazer consumido rapidamente gera patologias que se disseminam e se multiplicam nos nossos consultórios: transtornos na percepção da imagem corporal, como na anorexia, abusos na exploração das sensações corporais, como no consumo de drogas e transtornos de humor, o binômio ansiedade-depressão, tão nossa conhecida. A moda da tatuagem é um ótimo exemplo do novo papel do corpo. Roupas e jóias já não são suficientes para demonstrar nossas emoções e conquistas. O corpo deve ser um mural aonde nossos sentimentos possam ser desenhados. Já não falamos mais do corpo através de metáforas, mas através de valores e prazeres literais, concretos, privilegiando a vontade heróica e a aparência física, em prejuízo da profundidade de sentimentos ou de um olhar que veja através do concreto dos corpos e de cada fenômeno. Na moral das sensações, estamos nos acostumando cada vez mais a relacionar estados emocionais a variações de taxas hormonais e mudanças psíquicas ao consumo de remédios.
Neste novo mundo, até o trabalho perde sua força identificadora. O indivíduo da moral dos sentimentos era identificado principalmente pela sua profissão e por seu local de trabalho. Trabalhar toda a vida na mesma empresa era sinônimo de competência e eficiência. Hoje, o indivíduo desenraizado da moral das sensações, valoriza a mudança, a ousadia, as novidades. Trabalhar num mesmo lugar por muitos anos é sinônimo de preguiça, falta de ousadia. Na moral das sensações, o trabalhador ideal é o indivíduo que não enraíza, deve ser um homem globalizado, que pode e deve buscar em qualquer lugar do mundo a melhor oportunidade para ser um vencedor. Hoje, valoriza-se o indivíduo que não se cansa das tarefas impostas ao herói, e que não tem pressa de voltar à sua casa e às suas raízes.
            A moral das sensações abriu espaço para a organização de uma sociedade do espetáculo, que se manifesta no ideal da felicidade das sensações e na vida como entretenimento. O espetáculo organiza o mundo como um desfile de imagens que devem ser imitadas e seguidas, sem convidar o sujeito a pensar em seu significado e seu sentido. Cria multidões de imagens comandadas pela mídia, que produz opinião e idéias a serem consumidas rapidamente. O espetáculo diminui o espaço entre a vida pública e privada. Era em seu lar que os indivíduos podiam garantir seu direito à intimidade, podendo esconder seus vícios e sentimentos não nobres. Agora, na imitação de um mundo que se mostra através do espetáculo de imagens não produzidas ou vividas pelo espectador, o espaço privado se abre ao espaço público através da exposição de corpos e da imitação de comportamentos. Com isso, são expostos, também, vícios, falta de vontade ou impossibilidades financeiras. Não é mais possível dissimular, na intimidade,  defeitos e fugir do olhar e julgamento do outro. O corpo nos expõe. A sociedade do espetáculo, da insatisfação e insegurança cria, também, paranóia. O ideal está permanentemente exposto. Nossos limites e impossibilidades também.
A internet veio ampliar esse processo, transformando rapidamente o espaço privado num espetáculo público. É a vida cotidiana divulgada em blogs e sites e produzida segundo a vontade do indivíduo, que pode dar asas a imaginação na criação radical de um outro corpo e de uma vida ideal, caso a insatisfação e a insegurança estejam fortes demais. A produção da identidade, marco da modernidade, pode ser agora apenas virtual.
Concluindo:
Vivemos e nossos pacientes vivem na sociedade do espetáculo e dentro da moral das sensações. Conhecemos bem suas patologias. É o sentimento de inadequação que principalmente leva pessoas aos nossos consultórios: depressão, ansiedade, derrotas profissionais, solidão, problemas com o corpo, frustrações amorosas, medos de todos os tipos. Inadaptações. Como ver através de superfícies tão valorizadas? Como sair do banal, do igual? Como criar sentimento, alma, o pensamento do coração? A clínica que tenta imaginar a imaginação da alma não pode ser adaptativa, se curvar apenas a moral das sensações.
Porém, nunca é demais lembrar que o espírito de uma época sempre encobre muitas outras possibilidades de se organizar valores e a vida cotidiana. Encobre a pluralidade, valorizando apenas um ideal de vida. Mas, como sempre, a força que empurra para a massificação cria, ao mesmo tempo, a possibilidade da diferença: a volta às tradições, a crítica ou a rebeldia. Como em todas as épocas, a história humana não gera apenas imitação e igualdade, mas gera diferenças e criação do novo. È ai que as transformações acontecem, que surge a esperança e que a alma se faz.
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