... ( complete esse texto com seu título )
Esses últimos dias estou com uma palavra a perambular
acusticamente em mim: “void”. Num primeiro momento creditei essa palavra ao
término do livro “beleza e tristeza” do Kawabata que me deixou com uma lacuna,
mas que com satisfação “preenchi” para finalizar a narrativa; depois, por conta
de um documentário que assisti sobre cineastas japoneses em que a lápide de Ozu
não continha nome, datas, somente o ideograma chinês antigo “Mu” que significa
“void”, como último desejo do cineasta, que como tal não apreciava narrativas
rebuscadas e sim trabalhava o espaço e o cotidiano - “void” de novo; por fim,
um TCC que corrigi de uma aluna de artes plásticas, no qual ela fazia um
percurso de suas próprias obras e uma delas, que foi baseada em sentimentos opostos,
tendo um espaço proposital representado na obra o qual ela nomeou como “vazio”.
Não me contentei. As imagens acústicas dessa palavra ecoavam na minha mente,
escritas nos lugares, nas pessoas... Ok – disse a mim mesma – Fomos (eu e minha
caravana interna) ao dicionário de etimologia, quero saber a raiz, o profundo,
o abaixo da terra. Descobri que a palavra “void” vem de “voide” do francês
arcaico que se origina do latim “vocitus” (“tornando vazia) que também deriva a
palavra “vuoto” (italiano “vácuo”). A palavra “vazio” vem do latim “vacivu” que
significa vago. Não me contentei novamente. Li então cada significado da
palavra “void”, “vide” e “vazio”, até que encontrei o que estava procurando, um
dos múltiplos significados da palavra francesa “vide”: “qui offre des lacunes”.
E agora? Ouvi a voz da minha querida
professora de linguística que uma vez disse: “é mais fácil aparar arestas que
preencher lacunas”, no caso referindo-se a minha escrita, desde então aprendi a
preencher lacunas, como fiz no romance do Kawabata, mas oferecer lacunas? Imaginei um espaço para uma infinidade (com
perdão do pleonasmo) de possibilidades para preencher ou não, transformar (imagino feito com as mãos em massinha ou
argila) ou ainda segurar a angústia do “vazio”. Com esse texto, ofereço
lacunas, servidas de preferência com um pinot
noir, um vinho poético.
Por: ReBeKa S.
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