domingo, 3 de julho de 2016

Heleninha e Hillman

Esse é um pequeno relato de um encontro analítico onde as “permissões” autorizadas por James Hillman favoreceram que ele pudesse acontecer.

Atendendo uma paciente recém mastectomizada, em momento de muita fragilidade, sentindo o impacto da cirurgia e todas as emoções que foram despertando diante do tratamento, qualquer tentativa de elaboração se tornava pesada e difícil.
A única condição que se mostrava possível era o acolhimento e o aguardar. Aguardar o que viesse, o que fosse possível surgir.

E veio... E quem veio foi a Heleninha.

Heleninha entrou no espaço construído na relação terapêutica como a “menina” que precisava chorar, que precisava de colo, que precisava do abraço, do olhar amoroso, da compreensão, da não palavra. E a própria paciente foi quem trouxe a Heleninha, numa consulta onde, ao chegar, me disse “ Hoje quem vai vir para cá é a Heleninha, a coitadinha, a menininha que só quer chorar. Ela é vitima e muito infantil. Por favor, deixe ela ficar aqui até crescer. Sei que ela vai te dar trabalho, te deixar cansada. Mas ela vai crescer. Mas, nesse momento,  ela só quer que cuidem dela, que deixem ela se sentir a coitadinha.”

E assim Heleninha chegou...
Mas está crescendo. Tem chorado menos, conversamos sobre todos seus sonhos, todas as suas vontades de uma vida perfeita. Sua parte “adulta”, muitas vezes, participa desse encontro e diz : “como ela é boba, o mundo não é assim, não funciona dessa forma”. Mas a própria Heleninha responde : “ e dai ? Eu quero sonhar um pouco mais. Me deixe fantasiar. O mundo já foi muito duro comigo. Eu tenho direito de querer colo”.

Dessa forma, Heleninha tem tido espaço para se manifestar. Rimos com ela, damos suavesadvertências nas suas tentativas emnão querer aceitar algumas situações. Mas  está ficando mais fortalecida.

Seu choro é menos sofrido, as risadas aumentaram, trás bolo emimos para si e para sua terapeuta, suas falas estão menos vitimizadas. E já começa a pedir mais firmeza emenos colo.

Obrigado Hillman, vc nos ajudou a sustentar a possibilidade que o acolhimento criativo pode gerar na prática clínica.

Por: Edmea Ganem

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