E disse James Hillman :"...Mas eu penso, e sei, que uma
das dificuldades que a chamada psicologia arquetípica tem é que,desde o seu
início, pareceu-me que ela despotencializou o papel do analista. Isso significa
que a ideia de arquétipo podia aparecer em qualquer lugar - pode aparecer no
cinema, na pintura, no manicômio, em meio às crianças. Os arquétipos são as
formas míticas universais. Aparecem em qualquer lugar. E um dos lugares
em que aparecem é na clínica, no trabalho com o paciente de fato. Mas esse
é apenas um entre a multiplicidade de lugares. Isso relativiza o papel do
analista. A ideia arquetípica é um fenômeno cultural, e a prática da
psicoterapia ou análise é só um dos lugares onde você trabalha com isso. Em
termos de prestígio, isso diminui o lugar do analista."
A que Sonu Shamdasani complementou : "Muito claramente
Jung se via como um médico da cultura, usando uma expressão de Nietzsche."
Logo depois o mesmo Sonu disse :"Criticamente, a
conclusão a que Jung chega, durante esse período, é que o tema-chave do
sofrimento é a perda do significado. Perda do significado não é algo puramente
individual, mas está culturalmente determinada, daí sua intensa preocupação
com temas históricos. Não é que o indivíduo tenha tropeçado e se desviado na
vida de uma maneira puramente idiossincrática, mas ele ou ela está em um
horizonte onde, na compreensão de Jung, as tradições que deveria oferecer a
eles sustentação, tal como as igrejas, as universidades, a ciência no
verdadeiro sentido da palavra, não o fazem mais, e por isso não é surpreendente
que um indivíduo termine nesse dilema. Então, enquanto Jung era cuidadoso em
sua prática como um médico que cuida de um indivíduo, seu principal foco no
trabalho era chegar à raiz do que ele considerava ser esse problema. E essas
raízes são históricas. E culturais. Portanto, seu grupo colegiado favorito era
a comunidade acadêmica de Eranos."
Connecticut -"Lamento dos Mortos" pag 149
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