quinta-feira, 22 de setembro de 2016

E disse James Hillman :"...Mas eu penso, e sei, que uma das dificuldades que a chamada psicologia arquetípica tem é que,desde o seu início, pareceu-me que ela despotencializou o papel do analista. Isso significa que a ideia de arquétipo podia aparecer em qualquer lugar - pode aparecer no cinema, na pintura, no manicômio, em meio às crianças. Os arquétipos são as formas míticas universais. Aparecem em qualquer lugar. E um dos lugares em que aparecem é na clínica, no trabalho com o paciente de fato. Mas esse é apenas um entre a multiplicidade de lugares. Isso relativiza o papel do analista. A ideia arquetípica é um fenômeno cultural, e a prática da psicoterapia ou análise é só um dos lugares onde você trabalha com isso. Em termos de prestígio, isso diminui o lugar do analista."

A que Sonu Shamdasani complementou : "Muito claramente Jung se via como um médico da cultura, usando uma expressão de Nietzsche."

Logo depois o mesmo Sonu disse :"Criticamente, a conclusão a que Jung chega, durante esse período, é que o tema-chave do sofrimento é a perda do significado. Perda do significado não é algo puramente individual, mas está culturalmente determinada, daí sua intensa preocupação com temas históricos. Não é que o indivíduo tenha tropeçado e se desviado na vida de uma maneira puramente idiossincrática, mas ele ou ela está em um horizonte onde, na compreensão de Jung, as tradições que deveria oferecer a eles sustentação, tal como as igrejas, as universidades, a ciência no verdadeiro sentido da palavra, não o fazem mais, e por isso não é surpreendente que um indivíduo termine nesse dilema. Então, enquanto Jung era cuidadoso em sua prática como um médico que cuida de um indivíduo, seu principal foco no trabalho era chegar à raiz do que ele considerava ser esse problema. E essas raízes são históricas. E culturais. Portanto, seu grupo colegiado favorito era a comunidade acadêmica de Eranos."


Connecticut -"Lamento dos Mortos" pag 149

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